terça-feira, 20 de outubro de 2015

Rock'n'Roll Maratona de Lisboa 2015

As lágrimas começaram a cair, o objectivo estava prestes a ser cumprido. Na mão a fotografia que me acompanhou em toda a prova, que me fez acreditar que eu conseguia, que me deu forças quando elas acabaram. Olho para o céu e a linha final é transposta. 03:58 depois de ter começado, estava feito, eu estava feliz e tenho a certeza que Ela, onde quer que esteja, estava também feliz por eu ter alcançado o objectivo.
Obrigado por toda a força Mãe…


Pré Maratona

Se à 2 anos me dissessem que um dia ia correr uma maratona – ou uma meia até!! – iria chamar essa pessoa de maluca! Quando à 1 ano participei na mini-maratona e disse que minis nunca mais, não pensava sequer em correr a maratona 1 ano depois. O objectivo seria a meia-maratona, dizia eu…
Contudo, a vida é feita de desafios, e 21k seriam sempre um desafio muito pequeno e fácil de alcançar, por isso decidi no início de Março que iria correr a Maratona de Lisboa! Na altura não foi uma decisão que tomei de ânimo leve, ponderei vários dias, a maratona não é uma prova qualquer, mas acabei por me inscrever. Criei um plano de treinos no site MyAsics, e o foco maior desde essa altura passou a ser a preparação para a maratona, o grande objectivo do ano.
Pelo meio houveram muitas provas, algumas de estrada e outras de trail, a grande paixão, tendo feito inclusive um ultra-trail de 52k em Sintra em Julho - Ultra Trail Monte da Lua (52km) - a Ultra estreia!!
Foram muitas horas de treino e de corrida, focado no objectivo principal. Muitas horas em que se abdica de estar com a família, com os amigos, no sofá em casa a ver televisão ou a dormir. Mas todas essas horas valeram a pena.
O plano de treinos foi sendo cumprido, não à risca, foi sofrendo algumas adaptações pelo meio, consoante as provas que iam surgindo, mas no geral cumpriu-se, com excepção do mês de Agosto, onde os treinos foram mais raros – afinal, férias são férias!!!
E assim aproximou-se a grande velocidade o grande dia.
1 semana antes fiz a 18ª Meia Maratona da Moita, em 01:40:37, que considerei um excelente tempo tendo em conta algumas dificuldades que passei no decorrer da prova, e que me deixou com bastante confiança para o grande dia, confiança a mais!!!


Dia M

As previsões meteorológicas faziam antever um dia de diluvio. O temporal que se abateu sobre a zona de Lisboa no dia antes fechou várias zonas da estrada marginal, com zonas alagadas e arvores caídas. A expectativa era elevada: iriamos correr a maratona ou fazer um duatlo?!


Domingo, 5 da manhã toca o despertador. Não sei precisar se já estava acordado, se acordei com o despertador ou com a chuva a bater na janela e a trovoada…, levantei-me sem problemas – porque não é assim para ir trabalhar??! – tomei pequeno-almoço e um banho para ter a certeza de estava acordado! As coisas estavam todas preparadas de véspera, pelo que não demorei nada a estar pronto a sair.

À hora marcada o Nuno manda um sms, a avisar que estava a minha porta!
Tínhamos combinado ir juntos, tínhamos feito muitos treinos e provas juntos, pelo que o grande dia também ia ser vivido em conjunto!
Havíamos decidido ir de carro até Algés, e apanhar lá o comboio para Cascais, o local da partida. Tudo correu conforme planeado, estacionámos sem problemas junto à estação, apanhámos o 1º comboio, que já ia cheio, e chegámos com bastante tempo a Cascais. Seguimos juntamente com várias centenas de atletas para a zona de partida, onde deu para ainda estarmos à conversa alguns momentos a descomprimir, acabar de preparar, entregar o saco com a muda de roupa nos camiões e ir ao wc!

Cerca das 8.15 dirigimo-nos para a zona de partida, bloco das 3:30 – ambição quanta baste!!!
8:20 e acho que toda a gente entrou em pânico,  pois começou a chover torrencialmente. A sorte foi que durou apenas um par de minutos, pelo que depois do susto pudemos concentrar-nos no que realmente importava – a corrida!
A estratégia era seguirmos num ritmo a rondar os 5km/min, e ir analisando a nossa condição. Abrandar se necessário, acelerar se possível!

Arrancámos eram 8:35, e tentámos seguir ao ritmo planeado. Nem sempre era fácil abrandar para manter os 5km/min, ainda estávamos plenos de energia e excitação, e vários foram os km que fizemos abaixo desse ritmo.
Os km foram passando sem dificuldades, 1º abastecimento ao km5, outro ao 7.5, e outro aos 10km, este o 1º com isotónico.
E aqui… bem, aqui aconteceu mais uma situação que me faz cada vez mais gostar do trail em detrimento da estrada.

Um individuo – chamemos-lhe assim agora, porque na hora chamei-o de todos os nomes possíveis e imaginários – daqueles que quando correm devem ir a olhar apenas para os pés deles próprios, ao aperceber-se que havia abastecimento de isotónico do lado direito, corta a estrada dum lado ao outro, atravessando-se à frente de quem vinha.
Estava eu a aproximar-me da mesa para pegar num copo, quando sou abalroado por ele. Estrada molhada da chuva e do isotónico derramado no chão, escorregadia quando baste, fui ao chão… cotovelo, anca e joelho do lado esquerdo tudo esfolado e em sangue…
Então e ele não parou, podem perguntar vocês! Não, nem ele, nem ninguém, quem vinha atrás, desviavam-se apenas o suficiente para não me pisarem e seguiam apenas, sem mostrar qualquer sinal de preocupação em saber se estava bem ou mal, se seria precisa ajuda!!! Incrível a quantidade de “atletas” que iam a lutar pelo pódio, é só o que posso supor…
Aqui já foi no final, parece menos mal!


Esta situação e as dores inerentes causaram-me desconforto durante os próximos km, sendo que apesar de abrandar, segui até ao final com dores no braço e na anca…
Chateado, bastante irritado lá segui a fazer a minha prova, e passei na meia-maratona com 01:47. Nada mau, é só manter o ritmo até final, pensei eu!!
Só que o pior estava para vir. Depois de passar Belém, uma monotonia abateu-se sobre mim e fui abaixo. Abrandei várias vezes, e houve períodos que os km’s pareciam não passar. Aqui ia sozinho, porque o Nuno tinha ficado mais para trás, vinha com uma dor no pé e fez força para que eu seguisse. E eu segui, ate que fui apanhado por ele no Cais do Sodré, e que bem soube ter novamente companhia!

O Muro… o muro, o martelo, a marreta, bateram-me com força por volta do km 33. Ai tive de ir um bocado a caminhar, não conseguir correr, mas se já tinha ali chegado, depois de tanto esforço, não ia desistir.

Lá seguimos, ora puxando um, ora o outro, dando apoio mutuo, e assim foi até final, onde acabámos com poucos segundos de diferença.

Os metros que antecedem a linha final, quando já nada nos pode impedir de acabar, é um turbilhão de emoções que nunca pensei que pudessem existir.

As lágrimas começaram a cair, o objectivo estava prestes a ser cumprido. Na mão a fotografia que me acompanhou em toda a prova, que me fez acreditar que eu conseguia, que me deu forças quando elas acabaram. Olho para o céu e a linha final é transposta. 03:58 depois de ter começado, estava feito, eu estava feliz e tenho a certeza que Ela, onde quer que esteja, estava também feliz por eu ter alcançado o objectivo. Obrigado por toda a força Mãe…


Tive ainda uma surpresa que não estava à espera, sei que não é fácil cuidar dos 2 miúdos ali no meio de tantas pessoas e com o risco de chover, mas ali estavam eles os 3 a gritar por mim. A Bela, a Madalena e o Tomás. Felizes porque eu estava bem e tinha acabado.
Obrigado por tudo, por todo o apoio durante todos estes meses, toda a força e motivação que me transmitiram. A medalha que recebi também é vossa, Amo-vos mais que tudo.

Obrigado também ao Nuno, companheiro de muitos treinos e de maratona, por todo o apoio durante a prova e por me colocar travão ao início quando a minha vontade era acelerar!! Grande prova mano, esforço e determinação.
Temos de ir buscar a de Sevilha!!

Acabei com 03:58. Os dois objectivos mínimos foram cumpridos, que eram acabar, e fazer menos de 4h. percebo agora que subestimei a maratona, pensei que ia ser mais fácil, mas como diz e bem o Filipe, a maratona é a prova justa, não perdoa ninguém e aqui não dá para descansar nos abastecimentos ou nas descidas.

Hei-de voltar a fazer esta prova, e da próxima terei mais atenção a estes pormenores ;) Ouvi dizer que Sevilha é um bom local para se correr uma Maratona!

É Linda!!!!


4 comentários:

  1. Grande Paulo! Foi um prazer seguir a tua preparação ao longo deste ano. Nunca perdeste o foco, apesar das incursões pelo trail, e ela compensou-te. Foi uma estreia excelente e bem ciente do que estavas a enfrentar, eu por exemplo não posso dizer o mesmo, fui engolido por ela quando me estreei ehehe Sevilha é uma excelente opção, é um mundo completamente diferente! Grande abraço e continua com essa vontade, vemo-nos aí num trilho qualquer!

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    1. Obrigado Filipe, tens sido uma referência, um exemplo desde que me viciei neste mundo das corridas.
      Ver-nos-emos certamente num desafio por aí ;)
      Grande abraço

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  2. Muitos parabéns pelos objectivos alcançados.
    O episódio da queda é típico do asfalto, no entanto, tudo depende de quem nos aparece pela frente, há de tudo.
    Sobre a escrita do blog, vou começar a acompanhar uma vez que eu também tenho um blog em www.dosofaparaostrilhos.blogspot.pt escrevendo-o para me auto-motivar.
    Sobre Sevilha, é simplesmente deslumbrante, sentimo-nos verdadeiros atletas fi-la o ano passado e em 2016 vou lá outra vez.
    Continuação de boas corridas.

    Nuno Filipe

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    1. Obrigado Nuno.
      O episódio da queda, é triste, infelizmente há demasiadas pessoas pouco civilizadas.
      O teu blog já conhecia, e vou seguindo.

      Abraço

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