quinta-feira, 30 de maio de 2019

UTSM - Ultra Trail de São Mamede 2019



2 anos depois voltei ao UTSM, mas desta vez tudo foi diferente!

2 anos fui ao UTSM, naquela que seria a minha primeira prova de 3 dígitos, mas tive de desistir aos 50km em Porto de Espada.
Este ano tudo foi diferente. 

Apesar de a preparação não ter sido tão boa como há 2 anos, a experiência entretanto adquirida também me deixava muito mais calmo e confiante.
Os últimos meses foram focados nesta prova, todo o treino feito foi com um único objectivo: desta vez terminar o UTSM.
Cheguei ao dia da prova a sentir-me bem. Dia de férias, tudo preparado de véspera, de manhã foi só acordar e fazer uma última verificação, almoçar e ir apanhar o autocarro!!
Fui para Portalegre de autocarro mais o Heitor; o Paulo já tinha ido mais cedo, e íamo-nos encontrar quando lá chegássemos. Os últimos meses foram passados a treinar juntos, praticamente toda a preparação foi feita juntos, e pelo menos íamos começar a prova juntos, depois logo se via!!

Chegados a Portalegre fomos levantar dorsais e depois descansar para o quartel general, a casa alugada do Paulo!!

Aqui tenho de deixar um agradecimento especial à Andreia porque nos preparou um super jantar, e praticamente apenas tivemos de descansar, jantar e equipar!
No quartel general

Perto das 21 arrancámos em direcção ao estádio dos Assentos; estava a chegar o grande momento!
Ao chegar já se via uma enorme azáfama, carros por todo o lado e atletas a chegar de todos os cantos.
Fomos deixar o saco da base de vida e para a pista: já lá estávamos!!!!
Últimas fotos, últimos cumprimentos, concentração. Alguém da organização está a falar, mas não se ouve, na pista estão cerca de 400 atletas entusiasmados que já só pensam em partir.
Brothers in Arms


Às 22h é feita a contagem decrescente e dada a partida! Arrancamos juntos, o plano é ir calmo e gerir o esforço porque os avisos para a dificuldade vêm de todos os quadrantes.

A prova este anos sofreu muitas alterações: começou às 22h ao invés das 00h, inventaram muitos trilhos nem todos bem conseguidos na minha opinião, mas a melhor novidade foi sem dúvida a prova ir pelo meio da cidade de Portalegre, onde havia muita animação e pessoas a apoiar os atletas na rua.

Seguimos calmos e rapidamente chegámos ao 1º abastecimento, no Centro Vicentino da Serra. Paragem rápida e seguimos em direcção às Carreiras. A seguir a este abastecimento o Paulo e o Bruno (irmão do Heitor) seguiram mais rápidos e fiquei com o Heitor, no nosso ritmo de gestão.
Convento da Provença

A Castelo de Vide já cheguei com alguma fome, e lá comi e reabasteci o depósito!

A seguir a este abastecimento veio aquela que para mim foi talvez a parte mais complicada da prova, e perigosa: um single laeado de pinheiros e cheio de pedras de vários tamanhos e feitios, muitas soltas, tapadas e algumas afiadas, um perigo este trilho de noite e onde sei que houveram algumas baixas.

Aqui demoramos muito tempo. Não queria arriscar nenhuma lesão, eu que tenho tendência a entorses...
Chegar à Portagem foi um alívio, e a subida a Marvão pela calçada foi feita a bom ritmo. Chegámos ao abastecimento e parecia um cenário de guerra... Comemos alguma coisa, encher flasks, e tomei um café... café que me fez correr para a casa-de-banho!!!!

Depois de tudo tratado, estamos para sair e começam a avisar que já lá vem o vassoura. Já??? Como é possível?! Pois, parece que já há muitas desistências lá para trás...
Arrancamos e começamos a descer de Marvão, mas distraídos na conversa com o nascer do dia enganamo-nos e quando demos conta já tínhamos descido uns 500m. Ora toca a subir 500m para trás e tomar o rumo certo.
Seguimos a um ritmo confortável, mas um pouco antes de chegar a Porta de Espada estava um bombom: uma subida aos socalcos, boa para dar cabo de quem já não viesse muito bem!!
Aqui ia-me a sentir muito bem, solto e sem cansaço, mas o Heitor já não ia tão bem, e como tal subia um bocado e esperava por ele. Chegados ao topo seguimos juntos, está a nascer um belo dia! O telefone toca, é a Bela e os miúdos; sabe tão bem falar com eles <3 digo que vou bem, Ela também reconhece na minha voz que estou bem, falo um pouco com o Tomás que vai ter jogo dali a pouco e desligamos.
Apesar de ir a bebericar sempre Tailwind, começo a sentir necessidade de trincar alguma coisa mais sólida, e isso mesmo comentamos os 2. Pois bem, chegados ao abastecimento, e depois de trocar de roupa - roupa que não troquei tudo que devia... aqui cometi um erro que teve uma importância enorme no desfecho final: devia ter trocado de meias mas na hora achei que não era necessário..... - fomos para a parte do banquete!!! Havia bifanas, ui!!! Pedimos uma para cada 1, depois mais 2, e depois mais 2!!!! Saímos dali cheios, mas com um tempo enorme de paragem...
Tanto tempo parados fez mossa, e o Heitor que vinha-se queixando da virilha estava com dificuldades em correr... Seguimos com calma, mas passados uns km ele percebeu que eu estava (naquele momento) muito mais solto e mandou-me ir à minha vida!! Com a garantia dele que estava bem, segui. Aqui estávamos a descer para El Pino em Espanha, e havia uns trilhos engraçados onde me diverti a descer!!
Cheguei ao abastecimento e, quando perceberam que tinha o dorsal 1, fizeram uma festa enorme!!!
Dorsal "uno"!

Entretanto chega o Heitor que já vinha melhor, mas como eu já estava despachado arranquei.
Saída de El Pino e apanhamos um corta-fogo numa subida interminável, cerca de 3km...
Opinião pessoal: esta ida a El Pino não tem interesse nenhum, serve apenas para encher chouriços, dar mais uns kms à prova e desnível....
Um bocadinho da subida!

Chegados lá acima, toca a descer para São Julião... Há 2 anos tinha feito estas 2 descidas inclinadíssimas em sentido contrário, a subir, já fazia ideia do que me esperava.
Lembram-se de não ter trocado de meias na base de vida??? Pois, aqui a descer comecei a sentir umas dores enormes nos pés, por baixo...
Só queria chegar ao abastecimento para trocar finalmente de meias, porque, estava eu convencido, tinha colocado umas extra na mochila...
Entretanto vem o Heitor, passa-me e segue a bom ritmo!! Nunca mais o apanhei até ao abastecimento.

Cheguei e fui directo sentar-me numa cadeira, tirei a mochila e fui ao saco que lá trazia, para trocar as meias. SÓ QUE NÃO.... F0#@§§€ ESTA MERDA.....
Tentei limpar os pés o melhor que pude, e deu para verificar que estavam com umas espécie de cortes... Ia ser bonito até final ia........

O Heitor estava à minha espera, e lá seguimos os 2.
Íamos agora enfrentar mais uma subida, a mais dura ao ponto mais alto da prova, alto de São Mamede. Mas... antes de começar a subir ainda nos puseram a brincar aos salta pocinhas... DETESTO ISTO... andar a passar riachos de um lado para o outro, e uns metros à frente voltar a passar, e repetir por mais uma dúzia de vezes... enfim, não vejo qualquer interesse nisto.... Depois desta brincadeira lá iniciámos a subida, com segmentos por vezes bastante inclinados e complicados para subir... Mas, a mais dificuldade já não ia em subir, era mesmo descer, umas descidas inclinadíssimas com que a organização nos brindou e onde os bastões deram um jeitaço: pregar bastões no chão, apoiar e descer....
Chegamos FINALMENTE a São Mamede, e paramos no abastecimento. Mal aguento os pés, mas temos de seguir...
Seguimos em grupo de 4 em direcção a Alegrete: eu o Heitor, a Filomena e a Mafalda. Vamos tentando alternar caminhada com alguma corrida, este segmento é relativamente fácil, é praticamente só estradão, e queremos tentar ganhar algum tempo para o troço entre Alegrete e Reguengo, sobre o qual há imensos avisos relativos à dificuldade...
Chegados ao abastecimento só quero sentar-me. Peço, quase imploro para me deixarem estar uns minutinhos para levantar os pés do chão... Depois de alguma negociação,  lá me deram 3 minutos para estar sentado!!!
SIGAAAA

Saímos do abastecimento, dispostos a enfrentar este último troço que tantos alertas mereceu....
Continuamos a tentar alternar corrida e caminhada, e depois de alguns km quase a direito apanhamos então uma primeira subida, depois uma descida onde havia uma corda e finalmente a tão falada besta...
Nesta altura pairava, ainda que algo distante, o fantasma do limite horário no Reguengo. Disse ao Heitor que "tínhamos de dar ao chinelo" e arrancamos pela Besta acima em bom ritmo. A sério que mal dei pela subida, tão difícil que diziam que era e não custou nada!!! Virada a subida, começamos a descer e aqui dava para correr.
À saída de Alegrete tomei um Ben-u-ron para acalmar as dores e agora ia bem. Conseguia correr e arranquei a bom ritmo serra abaixo... Aqui já tinha a certeza que a prova tava feito, era só chegar à meta!! Desde São Mamede separei-me do Heitor, mas sabia que ele estava bem, também só tinha de rolar ara acabar, e deixei-me ir!
No abastecimento do Reguengo parei, enchi os flasks e segui! Nos 2/3 km seguintes ainda corri, mas depois decidi abrandar... Os pés voltavam a doer um pouco, já estava de noite e não queria arriscar nada....
Fiz os últimos km a corrinhar, e os últimos 2/3 a chamar todos os nomes (uma vez mais) porque íamos paralelos ao estádio, viam-se as luzes e ouvia-se o speaker, mas não havia meio de lá chegar....




24H 42' depois cortei a meta!
Não, não foi 24h depois, mas sim 2 anos depois, porque aquele DNF de há 2 anos ainda me custa a aceitar....
FINALMENTE é minha!!

A prova não correu de todo como esperava... Os avisos para o acréscimo de dificuldade vinham de vários sítios, e devido a isso fui durante a noite a gerir e poupar demasiado, tanto que por exemplo as 8 da manhã não sentia ponta de cansaço nas pernas... Cometi 2 ou 3 erros de principiante que já não os devia ter cometido.... Nalguns abastecimentos também estive demasiado tempo. São situações que tenho de rever porque tenho a noção que tinha tirado umas horas ao tempo final.

Quanto às alterações da prova, a mais positiva é sem dúvida o arranque pelas ruas de Portalegre às 10 da noite, hora em que há muita gente na rua a apoiar e, se mantiverem assim nos próximos anos, só tenderá a aumentar o apoio. Entre Castelo de Vide e Portagem, este ano colocaram um trilho quanto a mim perigoso; perigoso porque feito de noite, tem muitas pedras soltas e pontiagudas, nalguns locais mal dá para colocar os pés e sei que aqui houve muitas baixas. A ida a El Pino como já disse atrás é encher chouriços; não tem nada de interesse, é ir lá abaixo e voltar a subir por um corta-fogo poucas centenas de metros ao lado.... O declive de algumas descidas, claramente exageradas quando já vamos com 70/80/90 km nas pernas mas colocados para dar algum interesse às outras provas do evento é, quanto a mim, alguma desconsideração para com os atletas dos 110km; não é pelo desnível que esse é anunciado previamente, mas sim o exagero de alguns troços.... Sei que houve muitos atletas a reclamar, inclusive o meu Pai ouviu bastantes na zona da meta a queixar-se, e tenho a certeza que para a próxima edição a organização terá isso em conta.

Quanto a mim... bem, costuma dizer-se que não há 2 sem 3, certo?! 

terça-feira, 14 de maio de 2019

24 a Correr Mem Martins (12h)


Este é um tipo de prova, um desafio físico e psicológico que há muito tempo tinha debaixo de olho. Na edição passada das 24h de Mem Martins ainda preenchi o formulário de inscrição, mas não a terminei. Para esta edição já tinha decidido participar, mas o facto de ter ganho um dorsal terminou com qualquer dúvida que ainda pudesse ter!


O treino não foi talvez o mais indicado; para uma prova destas se calhar devia ter rolado mais em plano e abdicado um bocado da serra, mas isso era impossível, até pelos desafios que se seguem.... A logística para a prova também não foi simples de decidir, mas com calma lá acabei por organizar tudo.
O descanso... bem, o descanso é que nem por isso!!! No sábado acordei pouco depois das 7h da manhã, fui para a piscina com os miúdos, depois afazeres em casa, almoço, acabar de arrumar as coisas e quando pensava em descansar um bocado, tive de ajudar o empreiteiro que veio cá a casa arranjar uma situação.... Pois, a expectativa muito diferente da realidade....
Depois de jantar em casa em família, lá arranquei em direcção a Mem Martins nas calmas. Cheguei e assim que saí do carro, uma diferença de temperatura brutal para quando saí de casa!! Uma pequena amostra do que aí vinha de noite!!!

Fui levantar dorsal, processo que decorreu sem problemas, e ao carro buscar as minhas coisas para preparar a minha mesa de apoio!

Pouco depois das 23h uma pequena caminhada por parte do percurso, acabar de equipar e dirigi-me para a zona de partida.



Um bocado de conversa com alguns dos outros participantes, e às 00h é dada a partida.


Arranquei bem, rápido a ver o ritmo que o resto dos atletas ia colocar. Segui atrás do Jaime Cardoso e fazemos as primeiras 2 voltas muito rápido. Sinto que, apesar de ainda ir bem naquele momento, tenho de abrandar senão de certeza que vou rebentar. Abrando e sou passado por outro atleta, e fico na 3ª posição.
Assim se mantém até cerca das 2h de prova, altura em que começo a sentir imenso sono. Mas mesmo muito!! A correr e os olhos a querer fechar mesmo!! Acabo essa volta e paro na minha mesa de apoio (passava ao lado dela em todas as voltas), e coloco os phones e o Spotify a bombar música barulhenta!! Sigo para mais umas voltas, mas não aguento: tenho mesmo de parar e dormir um pouco... Assim foi, sento-me e com a cabeça sobre as pernas, fecho os olhos durante uns 15 minutos. Acordo, bebo um bocado de Tailwind e sigo. Tava um frio brutal!! É certo que arrefeci estando parado, mas mesmo assim, andava toda a gente cheia de roupa! Visto um casaco meio polar por cima do impermeavel que já tinha vestido, gorro e luvas e continuo.
Mas quem pensa que este é um desafio fácil, desengane-se. Nem é tanto o facto de ser às voltas em circuito, mas como é uma corrida constante, sem grandes inclinações para descansar, o cansaço começa a fazer-se sentir.
Por volta das 4 da manhã paro na tenda da comida, e encontro lá o Jorge Paulino. Peço uma Coca-Cola, e uma sandes, e por ali ficamos um bocado à conversa. Depois de um café lá se volta para o circuito.
Muito frio, algum cansaço e as paragens que fiz, começo a sentir a virilha direita a doer. Tento não dar muita importância à dor, e continuar, mas começa a aumentar e eu a deixar de conseguir correr. Andei assim até perto das 6 da manhã, altura em que decidi ir à massagista de serviço!! Estive na massagem perto de 50 minutos, levei com agulhas!!, mas saí com menos dores e a conseguir correr!!
Entretanto o dia já tinha nascido, os atletas das 6h já tinham arrancado e estava um nevoeiro brutal! Mas havia mais animação!!


Na prova das 6h, a lutar pela vitória e que acabou por a conseguir, estava o Tiago Rovisco, que no seu registo habitual sempre que nos cruzávamos ia dando um certo incentivo!!
E fui ganhando ânimo, aumentando a contagem de km e recuperando algum do tempo perdido durante a noite!!






O dia começou a aquecer, e com a entrada do pessoal da prova das 3h, a animação e o apoio no circuito era constante. E com isso as dores foram desaparecendo de vez e comecei a conseguir colocar ritmos mais fortes, mais dentro daquilo que queria.

Fiz a última hora e meia de prova +/- a um bom ritmo e acabei mesmo a acompanhar o Tiago. Quando já toda a gente estava de rastos, consegui renascer e voltar a correr!!!

Acabei com 36 voltas, 72km feitos, muito abaixo daquilo que pensava, mas a verdade é que não fazia ideia como gerir uma prova deste tipo, e não contava mesmo ter tanto sono durante a noite. Em nenhuma das outras provas nocturnas que fiz, apesar de sentir algum sono, senti tanto sono ao ponto de ter mesmo de parar...




OCS Power!!
Gostei do evento! Muito bem organizado, um staff impecável sempre com atenção aos atletas. Uma palavra às senhoras da tenda da comida: vocês são bestiais, sempre animadas e a dar apoio e a oferecer comida!!!
Vou voltar, isso é certo! Gosto de desafios, e este é um diferente. Físico, mas muito muito mental também.