sábado, 22 de outubro de 2016

IV DuraTrail 2016



No ano passado queria ter participado nesta prova. Custou-me imenso não ir, uma prova na Arrábida, mas era apenas a 15 dias do grande objectivo do ano, a Maratona de Lisboa e não quis arriscar uma lesão que iria deitar tudo por terra.

Este ano, decidi que tinha de ir, mas havia um problema: era na semana a seguir à Maratona de Lisboa, 2 semanas apenas depois do Grande Trail Serra D'Arga....
Inscrevi-me para os 28k, mas até aos últimos dias andou sempre no pensamento ir fazer os 53k. Ganhou o bom senso.. Sei que os conseguiria fazer, mas depois das provas das 2 últimas semanas, não iria desfrutar da melhor maneira da Arrábida.

Dia da prova, cedo, lá vão os 3 madrugas, eu, o João "KJ" Carapinha e o Paulo Sousa :)
Levantamento de dorsais sem problemas, volta ao carro para acabar de equipar e toca de ir para a caixa de partida que a hora aproxima-se.

Tinha decidido fazer a prova com cabeça, MESMO!! Não me podia entusiasmar! Conhecia praticamente todos os trilhos por onde íamos passar, conhecia as grandes subidas que iríamos enfrentar, e sabia que se abusasse ao início ia sofrer desnecessariamente para o final.
Dada a partida simbólica, lá fomos em pelotão até à partida real, junto à Av Luísa Todi. Saí do PUA no último quarto do pelotão, mas consegui posicionar-me mais à frente para a partida que interessava.

Partida real dada, e arranquei calmo. Já se sabe que o 1º km é sempre rápido, mas rapidamente acalmei e segui ao meu ritmo. A táctica passava por ir a trote sempre que possível nas subidas, e foi isso que fiz logo aos 700m, na subida que nos levava para perto do forte de São Filipe. Entrada nos trilhos, e tive de me aguentar um pouco atrás de um grupo de atletas, que passei assim que me foi possível. Ia em trilhos que conheço bem, por isso sabia que logo à frente havia uma subida curta, mas com alguma inclinação, e depois do Moinho dos Campistas, um trilho a descer em que não queria apanhar atletas à minha frente. E assim foi, conhecendo bem o que tinha pela frente, fui passando atletas e divertindo-me bastante pelos fantásticos trilhos.

Ia tudo a correr maravilhosamente, quando ao quilómetro 9, um percurso que até então estava marcado de forma excelente, e no restante também não deixa queixas, tem ali uma falha enorme, que na minha opinião não pode acontecer: numa descida grande, em que vamos concentrados em descer rápido sem nos esbadalharmos por ali abaixo, sensivelmente a meio, tínhamos de virar à direita. Havia fitas no caminho à direita, mas não havia nada nem ninguém a bloquear o caminho em frente. Ia com outro atleta, e apenas dei conta que tínhamos de virar para a direita porque olhei ligeiramente para o lado.
Era para virar à direita, e não seguir em frente

Comentámos que muitos atletas ali iriam seguir em frente, e seria chato terem de voltar atrás e subir aquilo tudo.Pois, mas o que aconteceu foi que quem seguiu em frente, continuou, e quando chegámos ao abastecimento que era logo à frente, nós que até iríamos bem classificados e não com muitos atletas à nossa frente, encontrámos uma enorme multidão de volta das mesas, sem contar com os que, segundo o João da minha equipa, já teriam seguido ou nem parado no abastecimento.
Fiquei fulo, bastante. Mal lhe respondi, bebi um copo de água e segui.
Logo a seguir ao abastecimento havia talvez a pior subida da prova, a Durassaurus, mas da forma como ia chateado entrei na subida a correr, e segui a trote quase até ao fim. 

Rapidamente e bem cheguei ao 2º abastecimento, que foi onde me demorei mais. Comi, bebi e molhei a cabeça com água fresquinha, e segui. 
Ia com boas sensações, na serra que adoro, trilhos que conheço bem, a divertir-me bastante. 

Estava a cumprir com o planeado, com uma gestão de ritmo irrepreensível, e num salto estava na toca dos javalis, e dali à meta era sempre a descer :)

Apesar de ter feito 2 provas grandes nas semanas anteriores, senti-me sempre bem, sem nunca notar demasiado o cansaço, e com grande satisfação cumpri mais esta meta.

3h18', não sendo um tempo excepcional, considero que foi um bom tempo, o que valeu na classificação final um 56º lugar da geral.
Organização excepcional que, infelizmente, ficou manchada com aquele episódio. Felizmente sei que vão fazer os possíveis para que não se volte a repetir, pelo que para o ano lá estarei novamente, na Ultra!

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Rock'n'Roll Maratona de Lisboa 2016

Cada vez gosto mais de Trail, mas terminar a prova rainha é uma sensação indescritível.

Ao contrário da participação na maratona do ano passado, a minha 1ª, este ano não há tanto para contar!
Até ao último dia de inscrições estava na dúvida se ia fazer a maratona ou não. Uma semana antes ia fazer os 53k do Grande Trail Serra D'Arga, pelo que corria o risco de não estar nas melhores condições para esta prova. Ainda assim, inscrevi-me!! 
No ano passado fiz a maratona, a 1ª, e adorei. Cortar aquela meta é uma sensação brutal, e este ano não resisti ao chamamento!

A semana anterior à prova foi essencialmente de recuperação. 3k lentos na segunda-feira, e 4 na sexta. No domingo foi sem qualquer pressão que me dirigi para Cascais. O plano era gerir dentro do possível, e chegar ao fim.

Tal como no ano passado, o carro ficou em Algés, e segui de comboio para Cascais. Lá chegado, dirigir para a zona da partida e tratar da logística: wc, equipar, levar o saco para o camião, aquecer e ir para a caixa de partida.

Tal como no ano passado, tinha como companheiro de maratona o Nuno Oiveira: para o ano vamos à terceira?!

Após uns minutos de espera, dá-se a tão aguardada partida. Este ano pareceu estar mais gente, e por isso uma partida mais lenta e confusa. Feito o primeiro km, o pelotão começa a alargar e a haver aos poucos mais espaço para correr. Vamos os dois juntos e a controlar mutuamente o ritmo: quando um se entusiasma, o outro mete travão!!

Por volta do km13 tenho de fazer uma pequena paragem para aliviar a bexiga, e perco o grupo onde íamos, junto do balão das 3h30'. Depois de voltar a tentação era acelerar para os poder apanhar, mas isso poderia ter repercussões negativas mais à frente, pelo que segui no meu ritmo sozinho.
Ao chegar à zona de Belém voltei a apanhá-los, o Nuno diz que vai com uma ligeira dor, e para eu seguir, e assim fiz. Ia a sentir-me bastante bem, e talvez tenha exagerado no ritmo nesta parte, mas o corpo e a adrenalina estavam a pedir, e eu deixei-me ir. E assim segui até cerca do km28, onde, seguindo o plano que havia traçado, devia comer uma barra que levava comigo. Abrandei, e a certo ponto fui a caminhar, para poder comer e beber. Lembro-me bem do ano passado que custou-me bastante a fazer aqueles km a seguir a Santa Apolónia, por isso este ano queria ter energia para passar essa zona sem o mesmo custo.
Voltei a correr, não tão rápido como antes, mas num ritmo mais calmo agora; as pernas já começavam a acusar o cansaço acumulado.
Passei Santa Apolónia, e o encontro com os atletas da meia-maratona... esta é a parte que mais desgosto nesta prova. Aqui vamos já com 33/34 quilómetros, muito mais lentos que os atletas da meia, e somos completamente engolidos pelo pelotão.

Prossegui ao meu ritmo calmo e cheguei finalmente à zona do Parque das Nações.
Assim que entro na Av D João II, com o apoio do público dos 2 lados, esqueci o cansaço, a meta era já ali à frente e acelerei por ali fora!!


Corto a meta com o tempo de 3h38'. Uma semana depois de fazer 58k na Serra D'Arga, consegui fazer a maratona de Lisboa, terminar em melhores condições e retirar cerca de 20' ao tempo do ano passado!!





terça-feira, 4 de outubro de 2016

Grande Trail Serra D'Arga

A propósito de um post que fiz no Facebook, dizia o meu primo Henrique: "Estás em casa." 
E era verdade, estava em casa.
O Grande Trail da Serra D’Arga não era apenas uma prova organizada pelo Carlos Sá, mas sim um regresso às origens. A minha avó materna é de um concelho vizinho, e a minha Mãe também. Esta não era apenas mais uma prova de superação, mas sim uma prova com uma enorme carga emocional. Enquanto percorria os trilhos da serra, não tao bela como outrora devido ao flagelo dos incêndios, passava pelo meio das aldeias com o seu cheiro característico, sentia o cheiro dos animais, as ruas empedradas estreitas e com a marca da passagem do gado, os pequenos muros a demarcar os terrenos, tudo isto me transportava para os meus tempos de menino, em que no Verão, no Natal ou na Pascoa íamos passar as ferias, como dizia na altura, ao Minho. Alturas houveram em que me revia a caminhar por ali com os meus pais, a saltitar de pedra em pedra, enquanto íamos a caminho da casa de algum familiar. Lembro-me que na altura não gostava do chão estar tão sujo, desta vez adorei reviver essa memoria.
As ruas que percorria em menino não eram aquelas de Dem, de Arga de São João ou da Montaria, mas eram iguais, numa aldeia ali ao lado…


São 6:50 da manhã, tenho tudo arrumado e sento-me a comer o pequeno-almoço a que estou habituado: umas sandes mistas (2 porque o pão era pequenino e um sumo natural).  E aqui tenho o 1º sinal que as coisas poderiam não vir a correr como eu esperava; o pequeno-almoço não me caiu bem, comi a custo uma sandes, e a outra nem lhe toquei… tentei ignorar, e seguimos para Dem.
Viagem rápida, e aqui respira-se trail por todo o lado. O tempo está encoberto, à nossa frente a serra que havemos de seguir logo ao início. 


Dirijo-me para a zona de partida, com passagem rápida pelo controle zero. Cumprimento umas caras conhecidas, e ouvimos o sino a dar as badaladas. Tenho ainda um historial de grandes corridas pequeno e esta será a mais mítica de todas em que participei. A atmosfera é brutal, o nervoso miudinho apodera-se e arrancamos. Ao passar o pórtico ligo o cronómetro. Começou o tão aguardado Grande Trail Serra D’Arga!!


A prova começa com a já conhecida volta a Dem, para esticar o pelotão, e dai segue para a serra. Tento não me entusiasmar e gerir o ritmo, pois a prova é longa. Correr a descer e a direito, trote sempre que possível a subir, e quando não conseguir ir a caminhar mas tentar manter um ritmo constante. 
Ao km4
Consigo ir a seguir o planeado e a prova vai a correr muito bem. Á passagem da 1ª hora tomo um gel, no 1º abastecimento bebo um copo de água para poupar a que levo, e sigo.


Vou-me a sentir bem até chegar ao abastecimento no km21. Tentei comer banana, laranja ou batatas fritas, mas não me sabia bem. Bebi um pouco de isotónico e segui, mas a pensar nesta questão, a juntar ao pequeno-almoço e que me abalou a confiança.
Daqui para a frente, e até chegar ao Alto da Srª do Minho, fui a muito custo. 
A última foto que tirei com a GoPro. Os cavalos soltos na serra
A maior parte do tempo a caminhar, com ataques de tosse e vómito. A certa altura passou-me pela cabeça desistir logo ali, ou seguir no máximo até aos 33, onde seria classificado nessa distância. Ao chegar ao alto, bebi água fresca de umas torneiras que lá havia, e descansei um pouco. 
Era esta a minha cara de ânimo ao chegar à Srª do Minho

Não muito, mas o suficiente. Falar com o meu Pai e a Lena que estavam lá à minha espera devolveu-me algum ânimo. Deixei-lhes a GoPro, já não a ia a usar e só me pesava! Disse-lhes que ia seguir pelo menos até à Montaria, que ia avaliar como me sentia até lá e decidiria se ficava por ali ou continuava. Esta era a parte racional a falar, porque a outra, a irracional e mais competitiva, já tinha decidido que ia até ao fim! Estava ali, a cumprir um desejo, e não ia deitar a toalha ao chão tão facilmente!
Saído do alto, voltei a conseguir correr no planalto que se segue, e depois na descida para a Montaria. Apesar de técnica, ser preciso andar a saltar de pedra em pedra e a massacrar mais as pernas, gosto bastante destas descidas, e voltei a ganhar alguma força amímica nesta descida.
Cheguei à Montaria, e encostei à esquerda no abastecimento. A meta dos 33k era mesmo ali, tentador ainda! Aqui encontro o Joel Ginga e pergunto como ele está, digo que vou descansar um bocado e que depois sigo. Ele arranca, porque amigo não empata amigo e há que aproveitar o momento.
Não consegui mais uma vez comer nada, sentei-me no chão durante uns 5’. Tinha perdido imenso tempo desde o último abastecimento, cheguei ali com 4h53’ e decidido a recuperar de alguma forma forças para seguir. Ponderei, alonguei, e ao fazer 5h de prova, levantei-me e dirigi-me para o lado direito da passadeira vermelha, para prosseguir a prova.
Ainda caminhei durante uns metros, e depois comecei a correr. Primeiro devagar, um trote lento, e depois fui aumentando o ritmo.
A sentir alguma fraqueza porque há muitas horas que não conseguia comer nada de jeito, cheguei ao abastecimento seguinte. Aí voltei a encontrar o Joel, comentei que não conseguia comer nada, e ele sugere para pelo menos tentar a melancia. Assim fiz, e que bem que soube! Comi uns bocados de melancia e seguimos juntos. Dentro do possível íamos correndo, até porque estávamos agora na zona junto ao rio e era uma zona mais técnica, e já não estando bem, era mais complicado correr.

Fazia em muito lembrar a 1ª prova que fiz este ano, o Trail Centro Vicentino da Serra em Portalegre, e onde me lesionei, por isso foi com algum cuidado redobrado que transpus alguns obstáculos. Sempre a subir, chegámos ao último abastecimento. Já ia novamente a sentir fraqueza, nalgumas partes em piloto automático e a seguir o Joel, que ia sempre a dizer que devia comer algo com açúcar. Pois, os géis até iam na mochila, mas só de pensar nisso….
Aqui consegui finalmente comer. Bebi um copo de Coca-Cola, que penso que ajudou bastante, comi banana, laranja, batatas fritas, e chocolate, muito chocolate!! Fomos ainda informados que a prova não seriam apenas 53k, mas sim 53 + 3 ou 4. OK, siga!!

Ainda subimos mais um bocado até às eólicas, onde já sentia bastante frio. Ainda pensei vestir o casaco, mas não adiantava porque íamos começar a descer e ficar protegidos pela encosta.
E começámos a descer, aquilo que penso que foi uma estrada romana. E ia a sentir-me bem. E a descida era tal como eu gosto, e fui!! Fui por ali abaixo a correr, abrandando só no final. Aí voltei a ser apanhado pelo Joel, mas ele só dizia: “o motor voltou a trabalhar, não pares!!”. E Dem já se via ali ao fundo, o motor continuava a trabalhar, e eu fui novamente! Obrigado Joel pelo apoio, foi importantíssimo.
Num instante cheguei à aldeia, e estava a virar à esquerda para meta. As dores e a fraqueza desapareceram! Ao chegar à passadeira vermelha, vejo o meu Pai e a Lena. Estão também contentes, e o meu Pai segue a correr comigo a cortar a meta!!
Estava feito, não tão bem como tinha planeado, mas o principal objectivo estava cumprido.


Um trail por variadas razoes especial, numa região especial. Não consegui ainda perceber o que se passou, já várias pessoas me disseram que pode ter sido dos nervos, de todas as emoções sentidas no fim-de-semana. Talvez, não sei….

Esta foi sem dúvida a melhor prova em que participei. Desde o levantamento dos dorsais em Caminha, à partida em Dem, marcações do percurso que nunca deram margem para duvidas, abastecimentos e simpatia dos voluntários. TOP. É claramente uma prova a repetir, e esperar que dessa vez consiga gerir melhor tudo.