segunda-feira, 24 de abril de 2017

Montejunto Trail 2017 - uma desistência com sabor salgado

Saber quando desistir é difícil, uma decisão que nunca é tomada de ânimo leve e raramente à primeira. 
A expectativa estava elevada. Não que fosse com pretensões de ganhar a prova, mas o corpo andava a responder bem ao treino e, sendo esta a última prova antes do UTSM, queria ver como se portava neste último teste.


Tudo preparado de véspera, no domingo saí de casa cedinho para ir encontrar com o resto da malta, o Cláudio e o Carlos. Viagem tranquila até Montejunto, fomos doa 1º a chegar e ir levantar o dorsal. Depois com o tempo que ainda tínhamos, ficámos por ali na conversa, tratar das questões logísticas e perto das 9 ir para a zona de partida.



Pouco depois das 9h e de um ligeiro briefing, é feita a contagem de 3 a 0 e dada a partida.
Arranco bem, sem sentir que ia a forçar, mas ainda assim num ritmo mais elevado que o que esperava. Segui durante uns 2k no grupo da frente de 4 elementos, liderado pelo Daniel Rodrigues - estás em grande forma, sempre em crescendo, parabéns!. Depois decidi que era hora de seguir ao meu ritmo mais constante, e com mais cautela nas descidas, pelo que fui ultrapassado por  alguns atletas. Em conversa nos dias anteriores com o Daniel, que conhece bem a serra de Montejunto, tinha-me avisado que a serra tinha trilhos com muita pedra solta e propícios a entorses, o que fez soar o alarme!!

Deixo-me ir ao meu ritmo, cuidadoso nas descidas e nas subidas sempre que possível a trote, e sinto o corpo sempre a responder bem. O calor ia apertando, pelo que fui sempre a hidratar e em todos os abastecimentos - 7 no total, para 36k!! - despejava 1 ou 2 copos de água por cima de mim.

Quando passei no posto de controlo aos 25k disse a menina: vai em 18! Vou?? 
Fixe!! Dali a 100m era o abastecimento. Cheguei lá, água por cima da cabeça, tomate, batata frita e sal, um pedaço de banana e segui. 
Logo a seguir entramos no Trilho da Senhora, trilho bastante técnico a descer. Ia bem, com cuidado por causa das entorses, até que comecei a ficar mal disposto e a sentir o corpo a fraquejar, perder força. 
Sentei-me a sombra, e despejei água por cima da cabeça, braços e pernas. Depois de uns minutos a descansar lá segui com calma. O estômago não estava bem, e na próxima sombra que apanhei voltei a encostar. Aqui a vontade de vomitar já era grande, mas nada saía. Tonturas obrigaram a sentar, mais uns 15 minutos. Voltei a arranjar forças para seguir, trilho a subir, até encontrar nova árvore, a única que fazia sombra. 
Aquela árvore era um oásis no deserto!! Reparei depois enquanto estava junto à carrinha da Cruz Vermelha que quase todos lá paravam a descansar por uns momentos!!

Mais 5 minutos. Mais acima está uma carrinha da Cruz Vermelha, é o próximo objetivo.. e o último. Chego, sento-me, bebo água, e começo a pensar...
Ainda faltam mais 500m a subir até ao abastecimento, 1k a descer, e a última subida com sensivelmente 5k. 

Ir ou não ir, eis a questão. 

Saber quando desistir é difícil, uma decisão que nunca é tomada de ânimo leve e raramente à primeira. 
A sensatez diz que não adianta arriscar, mas outra coisa diz para seguir...  já me sinto melhor, ainda me levanto para seguir, mas não...
Ia arriscar, sofrer por mais 6k para apenas dizer que terminei..  Valia a pena? Acho que não... há mais corridas, corpo há só um... 

Depois de mais de 1h de espera, lá veio um carro da organização buscar-nos. Falo no plural, porque depois de eu chegar mais uns 7 ou 8 atletas decidiram ficar também por ali.

sábado, 1 de abril de 2017

III Trail de Almeirim - Na Rota do Vinho e da Sopa da Pedra

Não gosto de vinho nem aprecio sopa da pedra, mas apesar disso decidi inscrever-me no III Trail de Almeirim.


De manhã quando acordei, por volta das 6.00 estava longe de imaginar o dia que ia ter. 
Ainda a recuperar da entorse que fiz nos Montes Saloios, o dia anterior à prova foi tudo menos o que deve ser!! Depois de ir para a piscina com a Madalena na parte da manha, comecei a ficar bastante mal disposto. não consegui almoçar ou beber o que quer que fosse, passei a tarde na cama e a vomitar, e apenas consegui comer um pão com manteiga já pelas 10 da noite... Preparei as coisas, mas sem a certeza se ia para Almeirim no domingo de manhã.

Pelas 6 o despertador tocou e levantei-me. Não estava a 100%, mas era o suficiente para ir fazer a prova. Preparei-me silenciosamente, pois a última coisa que queria era acordar algum dos 3 miúdos, mas estava a pegar nas chaves do carro para sair, aparece o Tomás no corredor a correr, a desejar um feliz dia do Pai! De seguida foi buscar a prendinha que tinha feito para mim, digam lá que não é gira??! 
A escova, para limpar os ténis!!!
De coração mais aconchegado, saí de casa e pus-me a caminho. Viagem de 1h, feita nas calmas porque o nevoeiro intenso também não permitia grandes excessos, eram 8:15 quando estacionei o carro junto à escola em Fazendas de Almeirim. Dirijo-me para o secretariado para levantar o dorsal, e tenho o 2º momento do dia: à minha espera, de surpresa o meu Pai e a Helena, tinham ido a Fazendas de Almeirim para me apoiar e passar o dia do pai comigo.
Levantamento de dorsal super rápido, sem algum problema, e voltei ao carro para acabar de equipar, e depois ir para a zona de partida.

Aquecimento feito, com muita atenção dada ao tornozelo, e coloco-me na zona de partida.

Após um breve briefing do Omar, é dada finalmente a partida.

No ano passado fiz a prova dos 18k e adorei os trilhos. Este ano sabia que iam haver muitos trilhos novos, e a expectativa era enorme. Depois de cerca de 1k de alcatrão, entramos finalmente nos trilhos. Sem grandes desníveis que ofereçam grandes paredes, entramos num autêntico carrossel, um sobe e desce constante que, como se costuma dizer, não mata mas mói!!  Apesar de ter abrandado um pouco o ritmo de treinos nos últimos tempos devido à entorse, e estar mais fraco por causa do dia antes, ia a sentir-me bem e rápido!


Até ao 1º abastecimento, não sei em que posição ia, mas ia bem à frente, até que pus a mão na consciência, pois se assim continuasse não ia aguentar até final. E assim aproveitei o 1º abastecimento, onde inicialmente não fazia intenção de parar, para beber um pouco de água, comer qualquer coisa, e abrandar o ritmo!!

E assim segui, mais calmo, a fazer a prova com a única preocupação de não torcer o pé novamente nalguma descida! Nas descidas acabava para abrandar um pouco para evitar alguma entorse, mas a subir recuperava - o trabalho no ginásio está a ter efeito!!



E foi  neste sobe e desce constante, trilhos novos abertos propositadamente para este evento, que os km's foram passando sem dar por eles. Passou o abastecimento aos 11k, e o dos 17, após uma pequena escalada pela corda e onde aproveitei para voltar a hidratar bem e despejar 2 copos de água pela cabeça abaixo.



A prova ia-se aproximando do final, e nesta altura tínhamos por alguns km a companhia dos participantes na caminhada, o que dava outra alegria e sempre um apoio extra à nossa passagem! E assim rapidamente cheguei ao abastecimento dos 21k, numa altura em que o calor já apertava e onde soube bem a água fresca, pela garganta e cabeça abaixo!!


Nos últimos km quebrei. A mistura do estradão com os trilhos em que andávamos aos Esses, ora a afastar ora a aproximar do final foram bastante maçadores. Aqui ia num grupo com mais 3 companheiros, e onde a companhia foi determinante para ultrapassar estes últimos km com menos dificuldades.

Finalmente chegamos ao pavilhão. Tínhamos combinado que íamos juntos, acabávamos juntos, e assim foi, camaradagem até final, o Espírito do Trail!!


E ao chegar à linha de meta, uma surpresa mais! Eu estava a olhar e a não acreditar naquilo que via! Alem do meu Pai e da Helena, estavam lá a Ana Bela com os miúdos, a 1ª prova que a Oriana viu o pai terminar; a Lurdes, o Hélder e a Lara! Melhor que qualquer registo de tempo, medalha ou pódio que pudesse alcançar, foi esta surpresa, ver ali na meta aqueles que me são mais importantes.

Em relação à prova, acho que esteve tudo quase imaculado, excepto por volta do km 8.5, em que íamos a descer e tínhamos de virar a direita. Aí segui em frente durante uns metros, acho que uma fita atravessada tinha dissipado qualquer dúvida, e comparando com o ano passado, pareceu-me ter mais estradão e trilhos mais chatos. No ano passado na prova mais curta, antes de chegar ao último abastecimento passámos por um trilho formidável, que tive pena de este ano não passar por lá.
Para o ano espero voltar, e não estar a recuperar de nenhuma lesão!!