As lágrimas começaram a cair, o
objectivo estava prestes a ser cumprido. Na mão a fotografia que me acompanhou
em toda a prova, que me fez acreditar que eu conseguia, que me deu forças
quando elas acabaram. Olho para o céu e a linha final é transposta. 03:58
depois de ter começado, estava feito, eu estava feliz e tenho a certeza que
Ela, onde quer que esteja, estava também feliz por eu ter alcançado o
objectivo.
Obrigado por toda a força Mãe…
Obrigado por toda a força Mãe…
Pré Maratona
Se à 2 anos me dissessem que um
dia ia correr uma maratona – ou uma meia até!! – iria chamar essa pessoa de
maluca! Quando à 1 ano participei na mini-maratona e disse que minis nunca
mais, não pensava sequer em correr a maratona 1 ano depois. O objectivo seria a
meia-maratona, dizia eu…
Contudo, a vida é feita de
desafios, e 21k seriam sempre um desafio muito pequeno e fácil de alcançar, por
isso decidi no início de Março que iria correr a Maratona de Lisboa! Na altura
não foi uma decisão que tomei de ânimo leve, ponderei vários dias, a maratona
não é uma prova qualquer, mas acabei por me inscrever. Criei um plano de
treinos no site MyAsics, e o foco maior desde essa altura passou a ser a preparação
para a maratona, o grande objectivo do ano.
Pelo meio houveram muitas provas,
algumas de estrada e outras de trail, a grande paixão, tendo feito inclusive um
ultra-trail de 52k em Sintra em Julho - Ultra
Trail Monte da Lua (52km) - a Ultra estreia!!
Foram muitas horas de treino e de
corrida, focado no objectivo principal. Muitas horas em que se abdica de estar
com a família, com os amigos, no sofá em casa a ver televisão ou a dormir. Mas
todas essas horas valeram a pena.
O plano de treinos foi sendo
cumprido, não à risca, foi sofrendo algumas adaptações pelo meio, consoante as
provas que iam surgindo, mas no geral cumpriu-se, com excepção do mês de
Agosto, onde os treinos foram mais raros – afinal, férias são férias!!!
E assim aproximou-se a grande
velocidade o grande dia.
1 semana antes fiz a 18ª
Meia Maratona da Moita, em 01:40:37, que considerei um excelente tempo
tendo em conta algumas dificuldades que passei no decorrer da prova, e que me
deixou com bastante confiança para o grande dia, confiança a mais!!!
Dia M
As previsões meteorológicas
faziam antever um dia de diluvio. O temporal que se abateu sobre a zona de
Lisboa no dia antes fechou várias zonas da estrada marginal, com zonas alagadas
e arvores caídas. A expectativa era elevada: iriamos correr a maratona ou fazer
um duatlo?!
Domingo, 5 da manhã toca o despertador.
Não sei precisar se já estava acordado, se acordei com o despertador ou com a
chuva a bater na janela e a trovoada…, levantei-me sem problemas – porque não é
assim para ir trabalhar??! – tomei pequeno-almoço e um banho para ter a certeza
de estava acordado! As coisas estavam todas preparadas de véspera, pelo que não
demorei nada a estar pronto a sair.
À hora marcada o Nuno manda um
sms, a avisar que estava a minha porta!
Tínhamos combinado ir juntos,
tínhamos feito muitos treinos e provas juntos, pelo que o grande dia também ia
ser vivido em conjunto!
Havíamos decidido ir de carro até
Algés, e apanhar lá o comboio para Cascais, o local da partida. Tudo correu
conforme planeado, estacionámos sem problemas junto à estação, apanhámos o 1º
comboio, que já ia cheio, e chegámos com bastante tempo a Cascais. Seguimos
juntamente com várias centenas de atletas para a zona de partida, onde deu para
ainda estarmos à conversa alguns momentos a descomprimir, acabar de preparar,
entregar o saco com a muda de roupa nos camiões e ir ao wc!
Cerca das 8.15 dirigimo-nos para
a zona de partida, bloco das 3:30 – ambição quanta baste!!!
8:20 e acho que toda a gente
entrou em pânico, pois começou a chover
torrencialmente. A sorte foi que durou apenas um par de minutos, pelo que
depois do susto pudemos concentrar-nos no que realmente importava – a corrida!
A estratégia era seguirmos num
ritmo a rondar os 5km/min, e ir analisando a nossa condição. Abrandar se
necessário, acelerar se possível!
Arrancámos eram 8:35, e tentámos
seguir ao ritmo planeado. Nem sempre era fácil abrandar para manter os 5km/min,
ainda estávamos plenos de energia e excitação, e vários foram os km que fizemos
abaixo desse ritmo.
Os km foram passando sem dificuldades,
1º abastecimento ao km5, outro ao 7.5, e outro aos 10km, este o 1º com isotónico.
E aqui… bem, aqui aconteceu mais
uma situação que me faz cada vez mais gostar do trail em detrimento da estrada.
Um individuo – chamemos-lhe assim
agora, porque na hora chamei-o de todos os nomes possíveis e imaginários –
daqueles que quando correm devem ir a olhar apenas para os pés deles próprios,
ao aperceber-se que havia abastecimento de isotónico do lado direito, corta a
estrada dum lado ao outro, atravessando-se à frente de quem vinha.
Estava eu a aproximar-me da mesa
para pegar num copo, quando sou abalroado por ele. Estrada molhada da chuva e
do isotónico derramado no chão, escorregadia quando baste, fui ao chão…
cotovelo, anca e joelho do lado esquerdo tudo esfolado e em sangue…
Então e ele não parou, podem
perguntar vocês! Não, nem ele, nem ninguém, quem vinha atrás, desviavam-se
apenas o suficiente para não me pisarem e seguiam apenas, sem mostrar qualquer
sinal de preocupação em saber se estava bem ou mal, se seria precisa ajuda!!! Incrível
a quantidade de “atletas” que iam a lutar pelo pódio, é só o que posso supor…
Esta situação e as dores
inerentes causaram-me desconforto durante os próximos km, sendo que apesar de
abrandar, segui até ao final com dores no braço e na anca…
Chateado, bastante irritado lá
segui a fazer a minha prova, e passei na meia-maratona com 01:47. Nada mau, é
só manter o ritmo até final, pensei eu!!
Só que o pior estava para vir.
Depois de passar Belém, uma monotonia abateu-se sobre mim e fui abaixo.
Abrandei várias vezes, e houve períodos que os km’s pareciam não passar. Aqui ia
sozinho, porque o Nuno tinha ficado mais para trás, vinha com uma dor no pé e
fez força para que eu seguisse. E eu segui, ate que fui apanhado por ele no
Cais do Sodré, e que bem soube ter novamente companhia!
O Muro… o muro, o martelo, a
marreta, bateram-me com força por volta do km 33. Ai tive de ir um bocado a
caminhar, não conseguir correr, mas se já tinha ali chegado, depois de tanto
esforço, não ia desistir.
Lá seguimos, ora puxando um, ora
o outro, dando apoio mutuo, e assim foi até final, onde acabámos com poucos
segundos de diferença.
Os metros que antecedem a linha
final, quando já nada nos pode impedir de acabar, é um turbilhão de emoções que
nunca pensei que pudessem existir.
As lágrimas começaram a cair, o
objectivo estava prestes a ser cumprido. Na mão a fotografia que me acompanhou
em toda a prova, que me fez acreditar que eu conseguia, que me deu forças
quando elas acabaram. Olho para o céu e a linha final é transposta. 03:58
depois de ter começado, estava feito, eu estava feliz e tenho a certeza que
Ela, onde quer que esteja, estava também feliz por eu ter alcançado o
objectivo. Obrigado por toda a força Mãe…
Tive ainda uma surpresa que não estava
à espera, sei que não é fácil cuidar dos 2 miúdos ali no meio de tantas pessoas
e com o risco de chover, mas ali estavam eles os 3 a gritar por mim. A Bela, a
Madalena e o Tomás. Felizes porque eu estava bem e tinha acabado.
Obrigado por tudo, por todo o
apoio durante todos estes meses, toda a força e motivação que me transmitiram. A
medalha que recebi também é vossa, Amo-vos mais que tudo.
Obrigado também ao Nuno,
companheiro de muitos treinos e de maratona, por todo o apoio durante a prova e
por me colocar travão ao início quando a minha vontade era acelerar!! Grande
prova mano, esforço e determinação.
Acabei com 03:58. Os dois
objectivos mínimos foram cumpridos, que eram acabar, e fazer menos de 4h.
percebo agora que subestimei a maratona, pensei que ia ser mais fácil, mas como
diz e bem o Filipe, a maratona é a prova justa, não perdoa ninguém e aqui não
dá para descansar nos abastecimentos ou nas descidas.
Hei-de voltar a fazer esta prova,
e da próxima terei mais atenção a estes pormenores ;) Ouvi dizer que Sevilha é um bom local para se correr uma Maratona!
Grande Paulo! Foi um prazer seguir a tua preparação ao longo deste ano. Nunca perdeste o foco, apesar das incursões pelo trail, e ela compensou-te. Foi uma estreia excelente e bem ciente do que estavas a enfrentar, eu por exemplo não posso dizer o mesmo, fui engolido por ela quando me estreei ehehe Sevilha é uma excelente opção, é um mundo completamente diferente! Grande abraço e continua com essa vontade, vemo-nos aí num trilho qualquer!
ResponderEliminarObrigado Filipe, tens sido uma referência, um exemplo desde que me viciei neste mundo das corridas.
EliminarVer-nos-emos certamente num desafio por aí ;)
Grande abraço
Muitos parabéns pelos objectivos alcançados.
ResponderEliminarO episódio da queda é típico do asfalto, no entanto, tudo depende de quem nos aparece pela frente, há de tudo.
Sobre a escrita do blog, vou começar a acompanhar uma vez que eu também tenho um blog em www.dosofaparaostrilhos.blogspot.pt escrevendo-o para me auto-motivar.
Sobre Sevilha, é simplesmente deslumbrante, sentimo-nos verdadeiros atletas fi-la o ano passado e em 2016 vou lá outra vez.
Continuação de boas corridas.
Nuno Filipe
Obrigado Nuno.
EliminarO episódio da queda, é triste, infelizmente há demasiadas pessoas pouco civilizadas.
O teu blog já conhecia, e vou seguindo.
Abraço